Cusco, a capital do Império Inca (1438-1533), é uma das esquinas especiais da história da humanidade. Sente-se isso logo ao chegar. Não são apenas a altitude, a aterrissagem ou os vendedores de folhas de coca no estacionamento do aeroporto que causam estranheza. Duas civilizações se enfrentaram e se cruzaram nessa antiga capital.
Os ecos desse encontro violento são sentidos ainda hoje não só nessa bela cidade mas também no mundo todo. A tomada de Cusco pelo conquistador espanhol Francisco Pizarro, em 1536, após ter sequestrado e assassinado Atahualpa, o imperador dos incas, encerra um capítulo-chave — e dramático — das conquistas das Américas.
O planeta Terra nunca mais seria o mesmo. A unificação do globo pela doença completa uma etapa importante. Os alimentos do continente americano se espalham mundo afora a partir dali. Percebem-se a intensidade e a emoção desse encontro de populações e culturas em diversos pontos de Cusco, sobretudo na arte das suas muitas igrejas.
Eram necessários sermões sem fim para conviver com tamanha estranheza e violência, ao que parece. Construções espanholas foram erguidas nas fundamentações de ruínas incaicas. Até mesmo o hotel onde fiquei, que servira de residência para o próprio Pizarro, foi erguida por cima de uma antiga construção inca. Haja fantasma.
Cusco merece ser saboreada. Reúne a elegância colonial com histórias ainda anteriores. Contrate um guia. Aprendi muito ali da história em pouquíssimo tempo. Queria ter ficado mais, cinco dias ao menos, uma semana, um mês, quiçá. A julgar pelo número de gringos integrados na paisagem urbana, muitos tiveram essa mesma ideia. Alguns deles ficarão para sempre, desconfio.
Saímos logo pela manhã para pegar o trem que nos levaria às ruí-nas de Machu Picchu. Levo junto uma das reportagens de Bingham da década de 1910, publicada na NATIONAL GEOGRAPHIC, para ler no caminho. É claro que não havia trem naquele trecho no tempo dele.
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